terça-feira, 28 de janeiro de 2014

"Tenho 30 anos e moro com os meus pais. Serei normal?..."

Esta pergunta do tipo "Dra. Ruth" resume o que esteve em discussão esta manhã na rádio local, que pude acompanhar a caminho do trabalho. O animador fez o seguinte pedido/convite: ouvintes que tivessem filhos entre os 20 e os 34 anos que ainda morassem com eles, que ligassem para o programa a relatar a sua experiência, nomeadamente se não sentiam falta de ter o seu espaço como casal. Isto porque aparentemente nos últimos dois anos disparou no Reino Unido o número de casais cujos filhos têm entre 20 e 34 anos e ainda moram com os pais. Surpreendidos?! Nem por isso, não é? Afinal esta é a realidade que encontramos em Portugal (pelo menos nas zonas mais urbanas).

Ao contrário do Reino Unido, em Portugal é relativamente comum os filhos viverem em casa dos pais até estes terem 30 anos (ou mais!). E isto não é mal visto pela sociedade, pois são raros os jovens adultos que hoje em dia conseguem arranjar trabalho depois de terminado o seu percurso no ensino superior. E aqueles que conseguem arranjar trabalho, é um trabalho bastante precário e que não dá para serem financeiramente independentes da família. Por outro lado, talvez o típico jovem português seja mais ambicioso que o típico britânico, que faz as malinhas e vai viver por conta e risco para fazer o que aparecer em vez de prosseguir os estudos. Deste modo os pais portugueses, cientes de dificuldades passadas e querendo o melhor para os seus filhos, vão alimentando esta ambição mesmo à custa de grandes sacrifícios.

Ainda assim, diferenças culturais à parte, temos de ser justos: a esmagadora maioria dos pais britânicos pode trabalhar a vida toda e fazer todos os sacrifícios que dificilmente conseguirá pagar (sem um belo empréstimo...) o valor de propinas por estes lados de um mero curso de três anos: entre 9 e 11 mil euros por ano para estudantes da UE e caso sejam fora da UE o valor sobe, e bem!! Estes valores dispararam em 2012. Imaginem os valores para mestrados... E isto esquecendo as outras despesas associadas! Esta grande diferença de custos pode assim justificar em parte o facto de relativamente poucos jovens britânicos irem para o ensino superior mal fazem os chamados A-levels, exames equivalentes aos exames nacionais em Portugal, e ingressarem no mercado de trabalho. E depois claro quando eles começam a ter alguma estabilidade financeira, não a querem largar e ficam com o que têm em vez de lutarem por mais. Mas não os podemos julgar pois os seus pais quando eles fazem 18 anos põem-lhes as malas à porta e dizem para eles irem à vidinha deles. Pelos menos, é o que faziam até há pouco tempo e parece agora estar a mudar...

Tenho muita sorte por ter nascido em Portugal e ter uns pais maravilhosos, aliás sem eles jamais teria conseguido chegar onde cheguei. OBRIGADA!!!
 

domingo, 19 de janeiro de 2014

"Passou-bem"... ou não!

É de conhecimento geral que os portugueses são vistos como um povo hospitaleiro pelos que nos visitam! Esta afirmação só faz sentido na existência de um ou vários pontos de comparação. É que, por sua vez, os povos do Norte da Europa são vistos como frios e pouco amigáveis a quem vem de fora.

No caso dos britânicos, pensamos que não é bem assim: são um povo mais acolhedor considerando a maioria dos que tivemos e temos o gosto de conhecer, seja através de viagens ou conhecimento pessoal. São regra geral abertos a conhecer o outro e isso é o primeiro passo do acolhimento. Mas isso não significa que não haja diferenças bem vincadas!

As diferenças começam no cumprimento: muito raramente temos apertos de mão ou beijinhos (e só um, se houver). Abraços, ainda menos! Aqui normalmente só existem estes cumprimentos "formais" quando as pessoas se conhecem ou após uma longa ausência. No dia-a-dia, não há cumprimentos para além um "bom dia" ou "boa noite" (se tivermos sorte, pois há muita gente que entra e sai como se nada fosse ou ninguém estivesse lá...). Esta é uma marcada diferença cultural, que não tem muito a ver com ser-se muito ou pouco educado: é como é. Fomos criados de forma diferente e estranha-se bastante ao início, mas passa, ou não fossemos portugueses!

Ainda assim notamos diferenças quando comparando as regiões do Reino Unido onde vivemos. Por exemplo, no País de Gales é comum as pessoas meterem conversa no autocarro ou à espera dele na paragem, principalmente as pessoas de mais idade, fazendo conversa sobre o tempo ou sobre o seu destino naquele dia. Já em Inglaterra isso não se nota, chegando mesmo a "tocar" a indiferença pois ninguém quer saber da vida do outro (e isso pode ser bom ou mau, claro). Estilo de vida ou diferenças na educação são duas explicações possíveis para estas diferenças. Mas claro que nós estranhamos esta mudança quando viemos morar para Inglaterra. Mas já encontramos por aqui excepções (sem a influência do álcool!), pois aqui toda a gente é muito amigável depois de alguns pints de cerveja!E certamente a maior parte das pessoas interessa-se, têm sim uma forma diferente de o demonstrar.

Também, devido ao facto das pessoas praticamente não comerem durante o dia, não há aquela desculpa da pausa de almoço, em que as pessoas se juntam e falam (de trabalho ou não). Portanto, cada um encontra o ritmo ou altura certa para comer qualquer coisa e depois retoma ao serviço. Isto é mais ou menos comum a todos os sectores de actividade por aqui! Sejam lojas, escritórios, universidades, hospitais, ... é assim. Isto estende-se às pausas para café, que por cá não existem, visto que a toda a hora é hora de café e chá (canecas bem cheias, claro). Isso é que é mais difícil de nos habituarmos, ai o nosso cafézinho...

Ou seja, não há aquele contacto mais "amigável" durante o dia, como há em Portugal (o que nem sempre é bom, como sabemos). Mas nunca pior. Ao fim de algum tempo já nem se pensa nisso! Mas isto não significa conformismo. Bem gostávamos que fosse diferente, mas como a nossa terra... só a nossa terra!


domingo, 5 de janeiro de 2014

A história dos 3 porquinhos não podia fazer mais sentido neste país!

O primeiro post de 2014 só podia ser dedicado à nossa mudança de residência de March para Bury St. Edmunds. Até agora tínhamos sempre vivido em apartamentos mobilados.

A nossa primeira casa em Cardiff era bastante compacta mas muito ajeitadinha, com pouco mais de 40 metros quadrados. Sim, não é engano, eram mesmo 40m2! A nossa maior divisão era o quarto que ficava virado para a rua, o que o tornava um pouco barulhento (mas aguentava-se bem!). Já a cozinha ficava debaixo das escadas da casa, que davam acesso aos apartamentos do 1º e 2º andar.


A casa de Cardiff

Quando nos mudamos para March as coisas melhoraram significativamente pois tínhamos um T2 bastante razoável, onde já podíamos receber familiares e amigos confortavelmente. Mas claro que o melhoramento em termos de tamanho não foi assim tanto, pois o nosso apartamento tinha 59 metros quadrados. Mas em termos de barulho, tirando o Sábado à noite e o Domingo por volta das 8h30m em que éramos acordados pelo pub da esquina a colocar as garrafas da noite anterior no vidrão, foi uma grande melhoria! Também tínhamos bastante Sol durante todo o dia, o que tornava a casa bastante quentinha, e um lugar estacionamento na rua mas não coberto, o que era motivo de grande preocupação nos dias de neve. Mas a cereja no topo do bolo eram mesmo os vizinhos, dos quais não temos saudades nenhumas!

A casa de March

Tendo mudado e melhorado a nossa situação, e pensando mais a médio prazo, decidimos que a nossa próxima casa seria uma casa em vez de um apartamento, com alguns requisitos básicos: ter garagem e um jardim pequeno para poder fazer uns churrascos quando o tempo permitir e desfrutar de tempo de relaxe em família (visto que não se deve ensinar "varandas" nos cursos de arquitectura deste país...). Posto isto, depois uma procura alargada e de uma decepção, lá descobrimos a nossa casa em Bury St Edmunds. Ainda está um bocado longe de ser a casa dos nossos sonhos mas preenche a grande maioria dos nossos requisitos e está dentro daquilo que queremos e podemos pagar. E claro fica em Bury St Edmunds, o que a torna mais especial! A casa é um T3 mas não fiquem muito entusiasmados porque na verdade o que neste país é T3, equivale a um T2 em Portugal (e mesmo assim...). Portanto, na verdade temos um T2 + um "quarto de bonecas " que mede 2m por 2,5m. Tudo isto perfazendo 75 metros quadrados, o que torna as cozinhas de 7m2 que vimos no IKEA em Londres perfeitamente lógicas.

Mas o que faz sentido neste país é a história dos 3 porquinhos. Toda a gente conhece bem esta história, que faz parte da infância de todos nós. Mas porquê, perguntam vocês? Esta foi a primeira casa que arrendamos completamente vazia, isto é, não mobilada. A única coisa que tínhamos eram os electrodomésticos da cozinha. Nem sequer cortinas tinha! E foi precisamente por aqui que começamos. Ora bom, quando penduramos as cortinas nos varões(que já pertenciam ao inventário da casa) ficamos com um bocado de parede na mão e o varão na outra! Visto as paredes serem "falsas" (serem feitas de madeira), eles não usaram buchas para afixar as coisas. O mesmo se passou quando colocamos os candeeiros cá em casa e verificamos que o pendente da lâmpada estava afixado directamente no tecto, novamente sem buchas! O resultado, tá visto claro, quando fomos meter o candeeiro ficamos com um bocado de tecto no mão. E podíamos continuar por aqui fora com mais exemplos mas não vos queremos maçar muito! Escusado será dizer que casas como estas são mato por aqui e que são vendidas a preço de luxo...

Moral da história: aqui as casas são essencialmente feitas de madeiras, tal como a casa do 2º porquinho da história dos 3 porquinhos, e vindo um vendaval mais forte lá vai tudo pelo ar! Vamos rezando e esperando que o lobo não passe por estes lados, senão vamos ter de ir em busca de uma casa de tijolos rapidamente!
Fonte: http://vector-magz.com/wp-content/uploads/2013/10/three-little-pigs-clip-art.jpg